sexta-feira, 29 de junho de 2007

Sobre alma, amor e solidão




O medo é nosso escudo e nossa perdição, porque tememos ao que nos mata e ao que nos faz viver. Por quantas vezes vacilamos na felicidade e nos entregamos à tristeza de braços abertos preferindo a certeza da infelicidade ao contentamento incerto da paixão. Somos todos covardes. Mortos antes pelo medo que por uma ferida do amor, do que por um corte da paixão.
Mas sangramos também pela tristeza – e nisso temos culpa. Se sagraremos de qualquer modo pela tristeza ou infelicidade e também pela paixão e pelo amor, por que, ainda assim, preferimos as duas primeiras? Temos medo de sermos felizes? Ignoramos que de qualquer modo sofreremos?
O amor nos é nativo, a alma nos é nativa. A solidão somos nós que construímos. Por que então não amar? Por que ignorar a alma que se avizinha, mesmo com a distância, mesmo com o terror e o medo. Somos animais estranhos. Ansiamos a cada instante a vida, mas nos prendemos ao fim, ao comodismo da solidão – porque estar só é cômodo, apesar de triste.
Eu desejaria amar. E teria coragem se fosse acompanhado – porque a ferida de amar sozinho é de punhal mais agudo. E falo de coragem porque sair do marasmo, da comodidade para o turbilhão de felicidade é uma tarefa difícil para quem adormeceu na solidão. Vibrar com a felicidade alheia, perceber o sorriso da alma, viver com o contentamento duplo, com a alegria compartilhada é tão bom! Quem diria o contrário? Mas então porque temos tanto medo? Porque nos negamos ao que nos é nativo?
Barnave dizia: “Quanto ruído, quanta gente atarefada! Quantas idéias a respeito do futuro em uma cabeça de vinte anos! Que desatenção para com o amor!” Esse talvez seja eu próprio. Ou ainda seja o resumo de todo o mundo! Quanto medo, quanta desatenção. Que animais estranhos somos! Mas se sou desatento com o amor e com tudo o que me é nativo - por medo de me machucar ou por prudência burra – tudo tem de mudar! Eu, prudente demasiadamente, acredito apesar de tudo, que não existe prazer na prudência. A prudência e o medo são instintos de preservação da vida – Mas há vida sem amor? E nasce amor na terra sem energia da prudência? Creio que não.
Então que se pronunciem as paixões. Que corram mesmo as lâminas afiadas do amor sobre os peitos arrebatados e loucos – pois que estas espadas não são para matar, são para gravar nas almas dos amantes os nomes dos amados e amadas. São “espadas–chaves” para o reino da felicidade – e a vastidão deste reino depende unicamente da nossa coragem e do nosso amor, e podem as terras ser tão grandes que se perdem de vista! E eu pergunto: por que não um reino vasto para se governar junto? Afinal ninguém governa só. E pergunto que mau há nisso tudo para temermos? Não somos tolos se nos negamos ao amor?
Somos feitos sim de alma, amor e solidão. Mas os dois primeiros nascem conosco – o último não, mas o preferimos, apesar de dizermos o contrário.Ama, definitivamente, sem pensar antes, escreve, assim como escrevo agora, sem medir, porque nada disso comporta medida nem ponderação! Ama sem medo para conhecer o contentamento da alma e contenta a alma para conhecer o que é o amor verdadeiro!

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