terça-feira, 31 de maio de 2011

O jantar



Minha palavra não foi feita pro vento, Teresa. Não sabe voar. Se a lançares nos ares cairá como pedra e espero, com sinceridade, que seja em tua cabeça - disse Ivan se despedindo e tão poeticamente que Teresa não sabia se era verdade ou não.
E apesar de achar que poesia era algo bonito, Teresa sempre tendia a pensar que nada poético pudesse ser verdade. Acreditava mesmo que também aquilo que Ivan dissera não era nada mais do que uma encenação, um rompante infeliz de frase bem construída, que poderia até ter algum efeito devastador nela própria, se ela pudesse prever que ele, depois de dizer o que disse, se levantaria, pagaria a sua conta e a deixaria sozinha no restaurante.
E assim Ivan ficou esplendido ao dar às costas à Teresa, observado por todas as mulheres do recinto e ocultado pela meia luz imperante no salão das mesas de mármore escuro frio. Talvez elas só pudessem ter escutado um pedaço do que ele sussurrara no ouvido dela - talvez apenas ”minha palavra não foi feita pro vento, Teresa”, ou talvez apenas só imaginaram o que aquele homem havia dito, para se levantar tão calmamente olhando nos olhos dela e depois, nunca mais a ver.
Como eram bonitas as despedidas. Dramáticas, avassaladoras, cheias de significados e pontos finais. Podia-se pensar e jogar as coisas para o alto, podia-se gritar e perder a compostura, como em um último dia de trabalho em um emprego miserável que o vem acompanhando por mais de cinco anos. Ivan respirava fundo e mesmo assim não pode deixar de sentir um vazio no peito, uma hesitação em favor do conhecido problema que representava Teresa em sua vida, uma atração pela desgraça corriqueira, pela cotidiana e segura repetição do desagradável.
Olhou a rua repleta de pessoas que passavam de um lado para o outro. Casais belíssimos e apaixonados pulavam a sua frente, como jamais ele percebera que existiam, quando estava com Teresa. Tirou os óculos e os limpou na gravata. Ficou um pouco atordoado, como se o mundo conspirasse contra ele, mostrando tanta felicidade. Depois colocou os óculos na face e olhou mais uma vez para o mundo. Viu prostitutas, travestis, crianças. Comprou uma cerveja no posto de gasolina mais próximo e foi feliz com o improvável.