quinta-feira, 7 de junho de 2007

Os escombros




Tivera vivido bem. Pelo menos ela acreditava nisso. Talvez por isso, hoje, essa realidade a oprimia tanto. Os móveis puídos, o chão sujo, os pratos à espera de limpeza e o rato, que envenenado pelo último arrobo de lucidez, apodrece num recanto, se furtando até do mal cheiro característico dos ratos podres, em carne liquefeita e vermes. Tudo a olha. Tudo. E no entanto o Tempo não a acorda, também não o grito da criança que chora, o ganido do cão com fome, o musgo que nasce na parede branca à sua frente. E assim, nessa gana de permanência, nada há que não o próprio sofrimento, estático, companheiro, tolerante, porque como é natural, na quietude da casa, nada do bulício da vida se pode conter.

Ela é toda escombros - corpo, casa, alma.

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