segunda-feira, 9 de novembro de 2009

O rio



Saio sob o sol e descanso sob a sombra das palmeiras, que me entrecortam como entrecortam-me os pensamentos do que já foi. Olho o rio – lanço em suas águas os últimos pedaços de amor que sobraram em mim e acolho o vento que passa, respiro a umidade do rio, admiro o mangue e o lixo que passa. Quantos já não jogaram aqui também os seus pedaços de amor? Não seriam esses escombros que bóiam? Impossível saber - pedaços de amor não são amores...
E saber isso, depois de tragar o último gole de um copo de cerveja já quente – quente por obra do sol incidente, acidentalmente incidente- é salgado como morder a própria língua e ver escorrer – por obra da dor- a última lágrima de crocodilo que poderia nascer de um sentimento assassinado, mas não nasceu.
Sorrio para mim mesmo. Passa pelo rio, flutuando, uma caixa de geladeira.
Os de coração gelado também amam?

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