sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Os Cães do Inferno - Capítulo XVII


Não, dona Milú pensara depois daquela primeira vez, não deitaria novamente com o encanador. Nem mais um cano furado, nem mais um vazamento, dizia quando ficava sozinha em casa. E seu Germino, chegando em casa à noite, cansado, loucamente desejoso de uma boa noite de sono, estava feliz por ver sua esposa tão contente, tão viva – gostava dela assim risonha, prestativa, a lhe dar beijinhos na bochecha e tapinhas nas costas.
Não mais o encanador – dizia dona Milú naqueles seus vinte e quatro anos – tão jovem e atraente! E com aquela força de vontade que ela tinha, foi experimentando eletricistas, pintores, jardineiros, limpadores de chaminé e depois o ajudante do limpador de chaminé, os técnicos de eletrônica, de forma que a casa foi se tornando um primor. De tudo tinha: boa pintura, chaminé impecável, gramado de dar inveja, iluminação perfeita. Um exemplo de casa feliz e provida de parafernália eletrônica de última geração. Para satisfazer os desejos da sua mulher que reclamava sempre dos problemas de encanação em casa, onde os técnicos dessa especialidade de serviço nunca mais entraram novamente, seu Germino, tão bom marido e preocupado com aquele problema que aturdia sua mulher, resolveu fazer, aos domingos, enquanto o jardineiro, aquele trabalhador tão assíduo ia tratar do seu jardim, um curso de encanador e passou, ele próprio a cuidar dos vazamentos esporádicos da sua casa. Tivera tornado-se um mestre na encanação e dona Milú ficava feliz em não ter que chamar um encanador de novo ali. Talvez temesse fugir com um ou se ver vítima de chantagem... Só tinha em mente uma coisa: seu Germino não merecia nenhum dos dois, nem a sua fuga, nem a chantagem. Por isso evitava definitivamente. Era uma mulher justa.

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