segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Balada do Amante


Eu a amaria se pudesse – é certo que a amaria. Não fosse o tempo, a chuva, o vento - eu a amaria. E ainda que tu estivesses perdida em outros braços, onde enlouquecido te encontrasse ainda dormindo, te desejaria como em um desespero que só a pieguice de amar é capaz de causar. Assim, fumando o cigarro do teu amante, te observaria – quieto - e te acordaria de leve, afim de que me percebesses sem susto e com a excitação do flagrante enrubescendo a tua face alva e sem vergonha.Tu te levantarias, Consuelo, e me abraçaria ainda nua, sem compreender como eu conseguira entrar naquele quarto estranho e imundo – enquanto eu recolhia as tuas peças de roupas espalhadas sobre o espaldar da cama e da mesa de cabeceira. Uma camisa decotada, uma saia dois dedos acima do joelho, uma meia calça rasgada entre as pernas e uma presilha de cabelo que eu havia dado de presente.Eu te amaria, Consuelo. Se pudesse eu te amaria. E te carregando em meus braços, solta e mole, como só as mulheres descaradas como tu podem se deixar carregar, eu te amaria. Ainda que tu, agora fria e pálida, descansando deitada no banco traseiro do meu carro, não possa me dizer mais nada, nem abrir os olhos negros para retribuir tanto amor, eu te juro, Consuelo, por tudo que me é caro:
Eu te amaria.
Se pudesse.

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